sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Eu estava cansada de todos daquele colégio ridículo, e a única pessoa com quem eu ainda suportava andar tinha me dito que eu era uma falsa. Legal.
Eu estava sentada no canto da quadra, perto das plantinhas, sozinha, escutando meu mp4 no último volume quando alguém me cutuca 'quem é o imbecil que ta me enchendo?' pensei.
- Eaaaaaai bolota! - Ele falou com um sorriso no rosto, se sentando ao meu lado.
- Orrrrrrrrrrrrca! - Eu falei, realmente feliz por ele ter vindo falar comigo.
Nós éramos amigos desde a educação infantil, ele era filho de uma das inúmeras amigas da minha mãe e nos criamos praticamente juntos, mas nos afastamos um pouco quando ele começou a namorar. Eu era da oitava série e ele do terceiro ano do Ensino Médio mas mesmo com a diferença de idade nos dávamos super bem.
- Que ta fazendo aqui sozinha? - ele perguntou.
- Ah não aguento mais sabe? To de mal com o mundo. - desabafei.
- Bolota de mal com o mundo, que milagre. - ele falou ironicamente. Dei um tapa em seu braço pra aprender a parar de falar besteira. Eu não era revoltada.
Começamos a conversar sobre o nada, sobre bandas, músicas, filmes, atrizes, seriados, livros internet até que começamos a falar de relacionamentos.
- Eai Bolota, desencalhou? - ele disse rindo. Esse garoto pede pra apanhar, puta merda.
- Nunca fui encalhada, tenho meu britânico, esqueceu?
- O gayzinho da banda? Você ainda sonha com ele? HAHAHAHAHA - ele falou e começou a rir escandalosamente. E eu a bater nele loucamente.
- Mas e você? Já ta casado com a estranha? - Nunca gostei das namoradas do Orca (apelido carinhoso) mas a que ele estava atualmente era realmente insuportável.
- Nãão! A gente terminou a quase um mês.
- Nem pra me contar, neh filho da mãe.
- Ah, não é algo que importe.
Continuamos a conversar até bater o sinal para subirmos para a aula, ele me levou até a minha sala me deu um beijo no rosto e foi para a sala dele.
No dia seguinte estava um sol muito gostoso, e eu estava deitada com as pernas dobradas, no mesmo lugar escutando minha música com os olhos fechados. Não esperava que ele viesse falar comigo, achei que no dia anterior ele só tivesse vindo dar um oi.
Mas do nada eu sinto um peso na minha barriga, era ele apoiando a cabeça na minha barriga e estudando as pernas. Abusado.
Nesse dia quase não conversamos, eu estava com muita preguiça de abrir a boca.
E os dias foram sendo todos assim, a gente sentado conversando, o povo do colégio começou a comentar que estávamos andando muito juntos, mas quem disse que a gente se importava? Éramos apenas amigos conversando .
Estava tudo indo bem até o dia que começamos a falar de relacionamentos, de novo. Resolvi contar o que eu havia passado e provavelmente era esse o motivo de eu estar revoltada com o mundo.
- Quem foi o imbecil que fez isso com você? Me fala que eu vou quebrar a cara desse desgraçado agora mesmo. - ele gritava, meu Deus por que ele tinha ficado tão furioso?
- Shiiiiiu, Orca, senta aqui e cala boca. Você não vai bater em ninguém, e ele se mudou pra outro estado. - falei atropelando as palavras para ver se ele se acalmava. Ele se sentou ainda bravo e pediu para eu contar mais detalhes da história. Bem nessa hora o sinal para o fim do intervalo tocou. Nunca fiquei tão feliz por ter escutado o sinal tocar.
faziam quase dois meses que eu passava o recreio com o Orca, e hoje estava chovendo. A gente foi pra um canto mais ao lado de onde a gente geralmente ficava para não pegarmos chuva, ao lado de umas flores amarelas. Quando o sinal tocou, ele pediu para eu esperar um pouco, não me neguei, afinal teria Educação Física no próximo período. Ficamos em silêncio até que ele se levantou pegou uma das milhares de flores amarelas que tinha ao nosso lado e pediu para eu me levantar. Ele pegou na minha mão e foi me levando em frente, onde não tinha telhado no meio da chuva.
- O que você ta fazendo seu demente? - Eu não me importava de me molhar, tava quente mesmo, mas o que ele queria?
- Da pra calar a boca? Se não eu me desconcentro. - ele falou e eu comecei a rir.
- Tá. - falei baixinho.
estávamos no meio do pátio, quase vazio já que todos estavam nas suas salas, quando ele respirou fundo se ajoelhou em minha frente e me entregou a flor amarela e olhando nos meus olhos disse:
- Você tem um jeito que me encanta a cada segundo, eu demorei muito pra me decidir porque eu não quero fazer você sofrer, nunca. Mas eu não aguento mais. Quer namorar comigo?
Fiquei sem reação, a gente nunca tinha ficado, ele nunca demonstrou nada e agora me pede em namoro do jeito mais fofo do mundo? Eu gostava dele, admito. Desde que a gente se conhece aqueles olhos verdes dele me hipnotizam. Me lembrei que eu tinha que responder ele.
- Quero! Mas se levanta dai agora antes que eu fique mais vermelha ainda. - falei, sem graça.
Ele se levantou com os olhos brilhando colocou a flor atrás da minha orelha deu o sorriso mais lindo do mundo e falou: 'Eu vou te fazer ser a garota mais feliz desse mundo.'

4 comentários:

  1. mil risos do jeito desengonçado dos dois juntos, mas isso foi lindo *-*

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  2. AAAiii,
    como essas leituras me trasportam pra melhor fase da minha vida! Déborah quantos anos tens mesmo???
    Hoje to sem inspiração pra escrever coisas bacanas mas como te acho muito parecida comigo (ainda mais quando eu era mais nova) vou deixar 2 trechos de Clarice Lispector pra ver se você se identifica:
    "Você há de me perguntar por que tomo conta do mundo. É que nasci incumbida".
    "Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos."
    Clarice Lispector.
    Me conta depois o que você acha.

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